...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

09/08/2009

Quando Escrevo Sobre Ti





Quando escrevo sobre ti,
pego a caneta e já só ao pensar,
esmago a folha entre os dedos
e a trucido num olhar
Outros estragaram as palavras
usaram-nas à toa
banalizaram os sentires
e fico sem saber-te explicar
duma forma verdadeira
pura
este meu querer-me dar
Porque é isso
É muita vontade de ti
em todas as tuas formas
O querer beber-te, sugar-te
O querer que pintes em mim
As cores do sol nascente
que vestes como ninguem
Todos os sons do vento
Que sopras
Mas muita vontade
De me oferecer-te
Cobrir-te
Cuidar-te
Beijar-te
Sentires a tua posse sobre...
eu.
Descrever-te
E sentir-me sempre curto
incompleto
incapaz
incompetente
Nâo ter nos dedos a possibilidade
De moldar as palavras à minha vontade
para dizer o que os outros estragaram
Estupidos!
Porque o tinham de espalhar assim?
Viram o que fizeram?
Viram?!?
Sente!
Sente o que sinto.
Esfaqueia-me com tua mão
afunda em meu peito
e vê
na ponta dos dedos
o que sinto por ti...

João Miguel, O Pássaro do Sul

3 comentários:

Anónimo disse...

"Cubro-te de beijos. Percorro-te. Desenfreadamente. A maciez da pele, o respirar tosco, o olhar sibilante. Sou das tuas mãos. Do teu amor. Aconchego-te a roupa, enrosco-me no teu calor. Sou uma bailarina doida. Uma bailarina sem pés, uma ave sem asas. Sou do teu amor. Deixo-me estar. E um rio… um silêncio… uma forma de música invade-me o corpo. Sou o sol. E tu a luz. Peço-te os minutos, as asas e os pés. Enroscar-me no teu calor, pertencer ao teu carinho. Peço-te os minutos, as asas e os pés. Sou uma bailarina, numa dança tosca, onde percorro a maciez da tua pele, onde me perco no teu olhar. E sonho o sol. Os dias de sol ao quadrado."

(Agripina Roxo)

Meu coração só pulsa com tua artéria, meu anjo!

Anónimo disse...

Antes de chegares
eram os dedos dos receios
os que desalinhavam
todas as noites
em ventos uivantes
dissontantes, delirantes
os finos f[r]ios dos meus cabelos

Tão cansada de fobias tantas
eu adormecia sobre a pedra
que amarrava ao pé-da-letra
para pesar-me
- como antissonhos -
ante a ousadia que teimava
em ser de mim a parte leve

Eu caía, eu quebrava…
Eu desachama-ve a voar


Foram teus olhos que me abriram
à vida que eu não vi[via]…
Quando pedi aquele olhar[te]

Foste tu que dedilhaste
com dedo em riste para os meus medos
Soletrando-me um prefácio
a [d]escrever-me - [e sou difícil!]
E folheaste-me por dentro
afrontando-me os fantasmas
de capa dura, e retiraste
a poeira das minhas asas
atrofiadas de tua espera

És quem-me-quer[es]
conforme doa a quem me crê
frágil, quebrável, à toa...
Vide verso teu parecer
.
Tua menina, meu anjo...

Anónimo disse...

Durante anos agradeceste o talento de passar despercebida aos olhos de quem passava por ti. Assobiavas ao vento. Falavas baixinho e coravas. Escondias paixões, eras competente a sufocar manifestos e gritos. Apertavas as mãos: uma contra a outra; sempre. Fotografavam-te assim. Mas tu tapavas a vergonha com esse sorriso dilatado e sobrevivias sem grandes esforços. Até ao dia. Até ao dia, repetes até enlouquecer. Não sabes ao certo como aconteceu. Ele encontrou-te naquela música. Conta que foi por acaso; que reparou em ti. Reparou em ti: as mesmas palavras a ecoarem no canto mais fundo da tua cabeça. Atenta bem nos lábios dele, se fazes favor. É que – ao menos até ali – sabias com toda a certeza: a fortuna pertence aos audazes. E o coração – para ti – era apenas um intervalo entre limites no teu corpo – ou seja – não era mais do que uma espécie de compartimento isolado onde o amor só entrava por engano. Sejamos realistas: o coração bombeava-te o sangue que trazias a morrer e a desbotar nas veias. Só isso. As emoções eram parte integral dos cadernos de capa negra que guardavas debaixo da cama e serviam apenas para enganar as insónias. Às vezes saltavam para dentro dos filmes mas era lá – e só lá – que deviam ficar. Presas na tela grande do cinema. Não compreendes o bater acelerado dessa máquina agora desregulada. Aninhaste-te à espera de um milagre que te devolvesse a vida inteira.

António Botto

E tu, só tu, ma devolveste... e dás corda constante ao meu coração que estava parado no tempo de não-ser.

És meu tudo, Miguel.