...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

15/08/2009

Saudade





A sombra caminha de mãos dadas
naquele espaço inocupado
onde os odores vivos escudam
a entrada de qualquer ar

A cova que provoca
a tua leveza nos lençois humidos
remexidos, embalados
deita a meu lado à noite

O som bolido das ancas
que flutuam nas pedras da memoria
ecoam em compasso desasossegado
com as batidas do peito flamejante

A luz do sol em tua boca
luta em fervor com a nebulosidade
do tempo lento, cerimonioso
hipocrita dos ponteiros parados

Estás em todos os sentidos
de que pensam te ausentaste
e moras em mim com tanta força
que a tua batida racha a minha casa

Antidoto de todos os venenos
tua presença esmaga cada respiro
cada expiro e é toda a inspiração
do transpiro que é sentir-te...

João Miguel, O Pássaro do Sul

2 comentários:

Anónimo disse...

Ama-me.
Interroga-me.
E eu te direi que o nosso tempo é agora.
Esplêndida avidez, vasta ternura
Porque é mais vasto o sonho que elabora
Há tanto tempo sua própria tessitura.
Ama-me.
Embora eu te pareça
Demasiado intensa.
E de aspereza.
E transitória se tu me repensas.

E tu, lúcido, fazedor da palavra,
Inconsentido, nítido.

Nós dois passamos porque assim é sempre
É singular e raro este tempo inventivo
Circundando a palavra.
Trevo escuro
Desmemoriado, coincidido e ardente
No meu tempo de vida tão maduro.

Sorrio quando penso
Em que lugar da sala
Guardarás o meu verso.
[...]

E te pareço bela
Ou apenas te pareço
Mais poeta talvez
E menos séria?
[...]
Que é de todo impossível
Guardar na tua sala
Vestígio passional
Da minha linguagem?

Eu te pareço louca?
Eu te pareço pura?
Eu te pareço moça?

*

Sobem-me as águas. Sobem-te as fúrias.
Fartas me sobem dor e palavras.
De vidro, nozes, de vinhas, me sobem dores
Tão tardas, tão carecentes.

Me vês e me pensas caça?
Ai, não. Não me pensas. Eu sim, nas noites

Que caminhadas. Que sangramento de passos.
Que cegueira pretendendo
Seguir teu próprio cansaço. Olha-me a mim.
Antes que eu morra de águas, aguada do que inventei.

Hilda Hilst

Inundada da ânsia de ti, eu te amo com fúria e leveza.

Anónimo disse...

Que cor têm os meus olhos
quando me doem de não te ver?

(Happy and Bleeding)

Esperando-te... para que a "luz" se acenda.