...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

18/04/2010

Inocentes

Este é um texto que já escrevi à algum tempo, noutras paragens, mas que me parece, continua de muita actualidade...

INOCENTES

Era madrugada e o Sol ameaçava a noite, as dores eram mais fortes e não paravam.
-Vamos para o hospital agora, já são muito fortes! Disse com alguma dor e ansiedade.
Corri a buscar o carro e fomos...

Estava deitada naquela cama especial para os partos. A parteira girava á volta dela, chamara o médico, o momento aproximava-se. Ela suava e gemia, já tinha lutado tanto,
pedia alivio, e desejava tanto ver-lhe o rosto.
Eu ali impotente, sentindo a minha insignificancia.
Queria ter podido sentir todas aquelas dores por ela,
queria ter podido, participar naquela luta com as minhas forças
queria ter podido ter mais importancia naquele acto de Amor.
Nós homens somos tão fracos...

A hora chegou, parteira, médico, ela, eu...
-Respire!
-Faça força!
-Vá só mais um pouco! Exclamavam para dar animo, ao fim de tanto tempo de esforço.
-É agora! Já lá vem!

E veio, veio enfim! Tudo se esqueceu naquela hora de magia, esqueceu-se as dores, as horas.
-Que sexo é? Quisemos saber, sempre quisemos viver essa surpresa na hora.
-É uma menina!
Era a nossa menina, que tanto desejámos, com que sonhámos, como seria? A quem sairia?
Cortei o cordão, embrulharam-na numa toalha e puseram-na em cima da mãe.
Não haviam dores e estava a ser cozida, só havia...
Alegria, Felicidade, Paz e muito Amor, tanto mas tanto Amor, o nosso e aquele que tinha nascido ali, naquele momento, que sabiamos seria eterno e inmensuravel...

Deram-ma para lavar e depois vestir. As primeiras roupas fui eu que lhas vesti, que honra e privilégio, tocar assim na minha Princesa pela primeira vez...
Ela estava ali, era real e nós quisemo-la tanto, mas a partir daquele momento sabiamos que a responsabilidade era enorme, tinhamos de tentar formar um ser humano, tentar dar-lhe as melhores oportunidades possiveis, queriamos e queremos para ela tudo o que não nos foi possivel ter, sabiamos que o que fizessemos seria um exemplo para ela, o que disséssemos poderiam vir a ser as suas palavras.

Escrevo mas choro!
Choro de raiva, choro de tristeza, choro com pena...
Como é que há homems que fogem desta responsabilidade e deixam mulheres sós com todos os encargos, mas perdem esta magia. Como é que há mulheres que abandonam filhos, sangue do proprio sangue, sozinhos á sua sorte. Como é que há pessoas que não têm carinho para dar a uma criança e vão formando um ser humano seco e frio...
Como é que neste mundo, das telecomunicações, da internet, das radios e televisões e onde somos bombardeados com informaçâo por todos os lados, existe gente que não percebe, que a violencia com as crianças, forma pessoas violentas ou inseguras, timidas, muitas vezes inadaptadas, que se essas crianças não tiverem a sorte de vir a ter bons professores, serão futuros mal-formadores...

Quando é que os pais percebem, que se já não se suportam, ou têm divisões dificeis de colmatar, não devem discutir em frente aos filhos, não devem fazer amuos, não devem lançar culpas um ao outro, porque estão a ser um mau exemplo. Porque não se lembram de dialogar, se um dia se juntaram, não se podem dar tão mal assim, e o futuro dos vossos filhos agradece...

Será melhor para os vossos filhos, verem-vos separados mas no medio prazo em paz e talvez felizes, ou juntos e a discutirem ou nem sequer se falarem? O que será melhor?
-Ai meus filhos foi por vocês!
-Eu não te pedi isso, tambem gostava que fosses feliz...
E que grande cobardia usar os filhos como arma de arremesso, nas separações, os filhos são sagrados!
E tanta raiva, enorme, descomunal, ao pensar que existem animais que pensam, e só por o pensarem já são nojentos, abusar sexualmente de uma criança, só o facto que tal se possa pensar é hediondo, o praticar-se é de uma nojice sem palavras, alias todo o tipo de violação é de uma sordidez chocante, é coisa de animais doentes, e tantas vezes passa-se dentro da propria familia...

São crianças, são inocentes de que os tenhamos querido trazer para este mundo, não têm culpa do que se passou antes, não têm culpa que existam animais, que existam irresponsaveis, que existam desnaturadas...
Olhem á vossa volta e sintam-se orgulhosos de denunciarem o que está mal, ajudem quem não tem força, quem está dependente...
Olhem estes pequenos anjos que nos enchem a vida de alegria, não deixem que lha tirem...

SÃO INOCENTES...

João Miguel, O Pássaro do Sul

2 comentários:

Anónimo disse...

Miguel,

Aqui está quem e como és.
E mesmo antes de te conhecer, eu já adivinhava o pai e o homem raros de que é feita tua matéria e essência.

Digo, e tu já sabes, de como esse foi o primeiro dos teus blogs que eu li, há muito, e que me impressionou de imediato.

És lindo, meu anjo.
Um dia, tuas filhas, quando estiverem a viver os questionamentos da condição de se ser mulher, hão de se orgulhar do pai que têm.

Amo-te ao extremo.

Tua Katyuscia.

Branca disse...

João Miguel,

Li desde o primeiro momento este texto, reli-o agora e acho lindo este Hino à inocência, esta revolta e esta chamada de atenção para os problemas da infância, para os problemas da violência, tanta que há, tantas vezes sendo "só" psicológica, mas mais destruisdora.
Sim, é preciso denunciar.
Obrigada pelo teu testemunho.
Com amizade
Beijos.
Branca