...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

28/07/2010

Querer

Querer, como é que se explica querer?
Como se explica vontade? Como se explica desejar?
Amar! Amor! Amada! Uma luta!
Mas não é? Uma luta imensa, interior?
Amar, sempre conotado com bons sentimentos,
coisas muito doces, benignas, divinais.
Nâo amarei então?
Eu quero sem nenhum pudor,
aos gritos quando me apetece, e isso é sempre.
Quero, tenho uma vontade louca,
é um metro sem numeros com que,
como um incansavel Prometeu,
tento sem fim, medir o quanto quero,
para de bandeja o dizer e entregar.

E é uma luta. Porque amar e querer assim,
é uma submissão que aprendemos a aceitar.
Uma luta, tanto quanto maior,
quanto maior for a liberdade do nosso espirito.
Eu amo-quero, e o desejo-amo, que sinto parte tudo em mim.
Aboliu todas as fronteiras e todas as regras pré-estabelecidas
de como isto de vontade-querer pudesse ou devesse ser.
Adorar-querer é algo selvagem e muitissimo forte.
Querer ser tomado primitivamente, quase escravizado,
desejar a qualquer hora tudo que se deseja,
desejando tudo dela, sem medida e sem excessões.
Partir tabus aos pedacinhos miudinhos e lançá-los ao vento.
Fazer de todas as regras combustivel da maior pira já vista,
que com seu calor ainda mais incendeia.
E querer paz, descanso...

A paz está lá. Ali bem à vista.
Está no colo da Amada-desejada.
A paz está em aceitar que sou sempre igual,
sempre o mesmo com os mesmos valores,
mas para os outros.
Lá no teu colo, este Amor-querer,
deposita o egoismo de desejar só para mim,
cada sorriso, cada lágrima,
cada gota de mel que sai dessa boca,
e cada seu murro fechado de raiva e revolta.
Deposita todo o ciume, que mesmo inexpresso,
existe medonho, querendo discutir com o ar isso de tocar sem meu consentimento. Deposita este empurrar para que brilhe como mil sóis,
e morrendo de medo, babar vaidoso e orgulhoso,
presunçoso e exibicionista...
A minha paz, está em depositar-me no colo,
consciente que quero sem medidas,
que isto do amor, me abriu todo,
me revolteou, tempestuou.
Tudo por TI!
TU!
Quero-TE!
Toda!
Sempre!
Minha!
Teu!

João Miguel, O Pássaro do Sul

2 comentários:

Branca disse...

Lindo! Deslumbrante!
Um Hino à vida e ao amor!
Dizer algo mais estragaria o sortilégio.
Beijos para os dois.
Branca

Anónimo disse...

Meu anjo...

Antes de chegares
eram os dedos dos receios
os que desalinhavam
todas as noites
em ventos uivantes
dissontantes, delirantes
os finos f[r]ios dos meus cabelos.

Tão cansada de fobias tantas
eu adormecia sobre a pedra
que amarrava ao pé-da-letra
para pesar-me
- como antissonhos -
ante a ousadia que teimava
em ser de mim a parte leve.

Eu caía, eu quebrava…
Eu desachama-ve a voar.

Foram teus olhos que me abriram
à vida que eu não vi[via]…
Quando pedi aquele olhar[te].

Foste tu que dedilhaste
com dedo em riste para os meus medos
Soletrando-me um prefácio
a [d]escrever-me - [e sou difícil!]
E folheaste-me por dentro
afrontando-me os fantasmas
de capa dura, e retiraste
a poeira das minhas asas
atrofiadas de tua espera.

És quem-me-quer[es]
conforme doa a quem me crê
frágil, quebrável, à toa...
Vide verso teu parecer

[Katyuscia Carvalho]

Quero-te com todas as forças...
Entranhastes-me, sabes?!