A frontalidade é uma anormalidade nos tempos que correm. Em nossos dias, fala-se para seduzir ou anuir. A frontalidade de hoje é na maior parte das vezes um julgar sem reflexão, demonstrando-se uma sinceridade estúpida, impensada, despida na maior parte das vezes de um senso autocrítico; humana tentação de agredir, mostrar superioridade moral ou intelectual, simplesmente o desfrutar autoritário duma posição.
Deixou de se ver a frontalidade verdadeira, reflectida, à procura de peito nu pelo crescimento, a troca crua, despida de embalagens, ornamentos, para se traduzir em entendimento acessível e troca de ideias e conceitos em estado puro, básico, o mais perto das raízes possível. O apontar erros em vez de pessoas, querer a verdade sem acusar, desmistificar e desmitificar, chamar as coisas pelo nome, ou procurar a denominação real.
Criação sólida de laços, baseada no cimentar de verdades.
Criação sólida de laços, baseada no cimentar de verdades.
Passou por isso a ter o efeito de assustar e afastar, os que inundados no espirito da era que vivemos, ficaram sem a lucidez de a apreciar.
Crê-se, sem pensar, que devemos ser bondosos, simpáticos, poupar as gentes à verdade, não apontar erros, passar a vida afagando a cabeça das pessoas. Em vez de partilhar pontos de vista e crescer, de explorar o mundo de mãos limpas. Gosta-se mais de duelos de luva branca e hipocrisias; exige-se que pareçamos, pelo menos pareçamos, educados e gentis num modo que é sempre o de silenciar as trocas que geram partos, esquecendo que nascimento envolve uma dor, explosão de vida.
João Miguel, O Pássaro do Sul
João Miguel, O Pássaro do Sul
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