Pássaro do Sul: R.I.P.

Pára-dentro

Por vezes parar
para apurar olhares
afinar pensamentos.
Aprofundar interiores
Inconter silêncios
Apalpar um grito que não terminou,
amputado por alguma canção
que soou mais profunda.
Amparar um devaneio pendido
logo ali, à frente do corpo freme
Chegar ao cerne
Lamber a carne
Ferida é flora aberta na pele
Pedaço de pano preso em arame
São os rasgos
que os riscos sempre nos deixam
Tremer de frio, mas não de medo
Apontar acertos
Aprimorar os erros
Aspirar o pó dos pontos finais
Soprá-los para dentro
Fechar o baú
Abrir bem os olhos
Sem pára-quedas,
pára-raios,
paradeiros,
para-sempres ...
E só então ir ter com o presente
De peito aberto
Por saber de cada [im]pulso que o habita!
Pronta
Pular

Katyuscia Carvalho

Há tantos diferentes gritos na garganta do mundo
Há tantas vozes que não deixamos ecoar
Há tantos de nós que se deixam amordaçar
E fica-se a ouvir a implosão do grito mudo...
...
Às vezes me transporto para fora de mim
espio por alguma fresta aberta na janela da alma
na tentativa de que as meninas dos meus olhos
consigam enxergar o que me habita.
...
Ser mulher é bem mais que nascer fêmea...
É não permitir que a pedra bruta
Esmague a suavidade da força que nasce junto
Rasgando ventres e véus vida afora...
...
Katyuscia Carvalho

Pássaro do Sul

04/06/2012

R.I.P.

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