...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

18/08/2009

Caminho



Os ramos afiados nos instantes
tingem tanta vez a pele de dor
A areia cuspida pelas horas que não passam
cegam sem conta, força e vontade
Afogados nos caudais dos olhos
tocamos as pedras cortantes
semi escondidas nos leitos da cidade
e as emboscadas de ilusões em molhos
lançam-nos sobre as ideias a rede que rouba a cor
São as trevas do caminho
Mas há o Sol verde onde nos deitamos
cicatrizando a tinta amarela de fel
e atrás da rocha do querer tanto
o peito vê para lá do saber, o ninho
seco e quente, intuido nos escritos da pele
intemporalmente desenhados no manto
de quem crê ser capaz de ouvir o sabor
do final da caminhada, sal rouco de mel
do meu e do teu rio, paralelos eramos
confluentes somos, sangue e breu, nossa cor

João Miguel, O Pássaro do Sul

2 comentários:

Anónimo disse...

«Trago à flor da pele a alma toda. Cheguei ao pé de ti com a trança desfeita e um vestido cansado. Com os olhos esborratados de tanto sol e duas mãos que carregaram enganos a vida toda. Encontrei-te mais velho; com um sorriso reservado que me fez lembrar a aragem de outros dias mais felizes – ainda sem ti. Mas tu só me viste a flor no cabelo: não a falta de jeito, nem sequer o embaraço, muito menos a pressa. [...] Cheguei ao pé de ti a correr, com um livro debaixo do braço e uma canção que já conheces entre os dedos. Nada de novo, desculpa. Esqueci-me até de falar. O costumeiro olá bastaria. Mas não. Preocupei-me muito – que horas seriam? – e lancei-me imediatamente num abraço. Só depois a sensação antiga de estar despida diante de todos. Ainda que só tu ali. Ajudas-me a respirar entre destroços. Porque - admito - sou somente aquela que tu reconheces.»

(Vanessa, in Como Quem Escreve com Sentimentos)

E para sempre te cheguei, e mergulhamos na escuridão um do outro com uma ponta de lume nos olhos acesos de amor... e para sempre teu sangue no meu... rubro e breu, eternamente nossos.

Tua Katyuscia.

Anónimo disse...

Chama-se amor a isto:
beber horas roubadas,
no receio constante
de que alguém as descubra
. . . . . (assim se tem cadastro!);
morder com pressa
a polpa dos minutos,
sem lhes sorver o sumo,
sem lhes tirar a casca
. . . . . (assim se apanham úlceras!);
ter este modo brusco
de engolir os segundos,
como se fossem cápsulas
de qualquer barbitúrico
. . . . . (assim se morre às vezes!)
O culpado: este cão
que trazemos bem preso,
todo agarrado ao pulso,
e a que chamamos Tempo.
. . . . . (sempre a ganir de susto.)

[David Mourão-Ferreira]

Louca para que corra solto, meu anjo!
Amo-te demais!!!