Amo-te por cada pestana, cabelo, debato-me contigo em corredores branquíssimos de onde nascem fontes de luz, luto contigo em cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz, vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago e espigas que dormiam à chuva. Não quero que tenhas uma forma, antes que sejas precisamente o que vem por detrás da tua mão, porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem no açúcar da fábula, e os gestos, essa arquitectura do nada, acendendo suas luzes a metade do seu encontro. Todas as manhãs são o quadro onde te invento, desenho, e te apago, assim não és, nem com esse cabelo caído, esse sorriso. Procuro-te na tua totalidade, no copo onde o vinho é também lua e espelho, procuro esse limite que faz vibrar um homem numa galeria de museu. E quero-te, e faz tempo e frio.
2 comentários:
E desde que te tenho em mim
não descamo
não despelo...
Nunca mais troquei de pele!
Esta ficou meio pétala, meio poesia
Epiderme da tua epiderme...
E percebo que agora
quando os póros se abrem
é para sairem pássaros...
E de asas e ventre somos nossos ninhos.
Amo-te por cada pestana, cabelo, debato-me contigo em corredores
branquíssimos de onde nascem fontes de luz,
luto contigo em cada nome, arranco-te com delicadeza de cicatriz,
vou colocando em teus cabelos cinzas de relâmpago
e espigas que dormiam à chuva.
Não quero que tenhas uma forma, antes que sejas
precisamente o que vem por detrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões
quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitectura do nada,
acendendo suas luzes a metade do seu encontro.
Todas as manhãs são o quadro onde te invento, desenho,
e te apago, assim não és, nem
com esse cabelo caído, esse sorriso.
Procuro-te na tua totalidade, no copo onde o vinho
é também lua e espelho,
procuro esse limite que faz vibrar um homem
numa galeria de museu.
E quero-te, e faz tempo e frio.
[Julio Cortazar]
E te encontro "dentro da minha pele, em mim".
Amo-te tanto...
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