...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

06/09/2009

Palavras


Queria que a palavra olhos, tivesse o brilho agudo do teu olhar, fosse penetrante e inquisidora, como quando mergulhas a pique no voo da procura e da descoberta.
Mas as palavras, não imagino quem as inventou, nâo se dobram e nâo se recriam à minha vontade e debato-me com elas quando te desenho na folha branca da expressâo do que me fazes sentir.
Teço tentativas sem fim, mas as linhas desfazem-se na perfeiçao da tua boca, a delicadeza com que foi traçada, o apetite que gera, tudo que diz sem se abrir,
envergonham as letras que por mais que dancem, não te explicam.
Rendilho, agora rendilho. Ridiculo! Ridiculo sou, ridicula cada tentativa que se espraia como mar sem força, nas enseadas da tua anca ao caminhar, onde um balanço que não à palavra que tenha, tritura democraticamente, desde as maiores, às menores. Todas elas.
As que vão sobrando secam, as mais humidas, ou derretem, as geladas, no calor do teu regaço, terra de sementeiras. Caem, escorrem e agradecem aos teus pés, delicados instrumentos de voo, quando as apagas...

João Miguel, O Pássaro do Sul

3 comentários:

Anónimo disse...

"A prosa é o diurno, a poesia é a noite: se alimenta de monstros e símbolos, é a linguagem das sombras e dos abismos."

[Ernesto Sabato]

Amanhecerás em mim... e lerás minha face que te diz que és todas as minhas fases... as solares e as lunares. Mas só ao amanhecer... agora, o nanquim fecha as pálpebras das palavras na tua mão.

E amo-te sem o dizer...

Sempre TUA.

ErikaH Azzevedo disse...

Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.

Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.

Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.

Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.

Carlos Melo Santos

Lindo teus textos Miguel...esse teu amor q sentes.

Amei tb o novo template do blog , de uma sensibilidade e beleza q encheu-me de ternura.

Um beijo te deixo num tanto de admiração q tenho por ti.

Erika

Anónimo disse...

Te desafio a por e falar de mim, sem dar pista nenhuma de quem eu sou, apenas falando o que represento na tua vida.
Te amo por sobrancelha, por cabelo, te debato em corredores branquíssimos onde se jogam as fontes de luz,
te discuto em cada nome, te arranco com delicadeza de cicatriz, vou pondo em teu cabelo cinzas de relâmpago e fitas que dormiam na chuva.
Não quero que tenhas uma forma, que sejas precisamente o que vem atrás da tua mão,
porque a água, considera a água, e os leões quando se dissolvem no açúcar da fábula,
e os gestos, essa arquitetura do nada,
acendendo suas lâmpadas no meio do encontro.
Todo amanhã é o quadro onde te invento e te desenho,
disposto a te apagar, assim, não és, muito menos com esse cabelo liso, esse sorriso.
Busco tua soma, a borda da taça onde o vinho é também lua e o espelho,
busco essa linha que faz o homem tremer numa galeria de museu.
Além do mais, te amo, e faz tempo e frio.

[Julio Cortázar]

Aqueçamo-nos.