Se o céu do teu olhar se enubla,
o calor do sol que não brilha,
destapa-me com suas mão indiscretas,
desnudando a virgindade eterna
que é sentir-se indefeso, menino,
tendo de caminhar, vendado, cego
o trilho das chuvas, até aos teus olhos.
João Miguel, O Pássaro do Sul
5 comentários:
E quando meus olhos alagadiços
pensam que se embaça a vida à frente
eis que surge, como visão, meu menino
que me vem descalço e de encharcado peito
emprestar-me a fé de que a calmaria nos virá resgatar.
E nunca chovo sozinha...
Amo-te.
Meu anjo, achei este texto tremendo... deixo-te aqui, na caverna dos olhos pela qual tantas vezes eu ou tu precisamos nos recolher.
Amo-te.
"Tento. Tento um sem número de palavras que alguém inventou numa carta de regressos e abandonos para descrever a espessura desta luz irreconhecível. Há quem ronde por aqui com lanternas pela trela, animais trémulos dos confins de um aperto de peito. Há uma incessante mão que põe e tira castelos de casas na amurada dos meus olhos. Tento, mesmo com este cansaço de mosaicos de histórias que deram para o torto, afundadas em noites demasiado sós, segurar-me com toneladas de livros por abrir no cimo da cabeça, dar passos, sejam ou não cambaleantes. Porque eu tenho uma rasgada ferida do tamanho do corpo e não sei andar em saltos altos para disfarçar a inclinação horizontal do mundo. O que me arde jamais verá acalmia e melhoras. Era nova e já passeava pelo zoo atenta às garras dos leões e ao choro dos antílopes nocturnos. Não posso voltar atrás nas coisas a que atentava. Era já às feridas, à massa inconforme das convivências quase impossíveis, à violência contida dos que amam. O olhar é uma emboscada abissal, pura, e nenhuma palavra chega para a deter. Mas eu tento um sem número delas para que uma história não comece por matar o ruidoso tremer de árvores e interromper a pressão da mão que aguarda o peito onde se enterrar como flecha e vertigem desta luz - só quando a luz se tornar iluminável senão apenas pela mais funda noite dos olhos nos olhos."
[Ana Salomé]
Aqui, na fenda da rotina onde o outono aquece
vou desenhar a sede, lentamente.
Já não falo de nós, peregrinos
das rotas que inventámos.
Por dentro das metáforas violo,
apenas, os limites do sossego e desfaço
todos os nós do medo no fulgor livre do verbo.
É morno o gesto com que percorro
os momentos inquietantes do quotidiano.
Imagens e sons são, quase sempre,
o fundo falso onde, de forma ambígua,
me escondo para representar todos os rituais,
sagrados e profanos, do dia a dia.
Aquém de mim acendem-se todos os mares
e, na voz dos marinheiros, pergunto ao sol
se pode ser eterna a sombra de um barco.
[Graça Pires]
Em[barcamos]...
Porque escondes a noite no teu ventre?
Nesse país de sombra onde se calam as palavras.
Aí, no escuro lago onde estremece a flor da amendoeira
E onde vão morrer todos os cisnes.
Eu desvendo a tua dor, o teu mistério
De caminhares assim calada e triste,
Quando viajo em ti com as mãos nuas e o coração louco
No mais fundo de ti, onde só tu existes.
Oh, eu percorro as tuas coxas devagar
Dobrando-as lentamente contra o peito
E penetro em delírio a tua noite
Esporeando éguas no teu sangue.
De onde me chegam estas palavras?
[Joaquim Pessoa]
Tu és TÃO MEU!!!
Não sei como ir da minha vida à tua rua,
a tua rua cheia de perguntas,
a minha vida estranha sem respostas.
Mas chegarei. Porque tu me chamas.
[Belén Sánchez]
Preparando as mudanças de dentro... Indo, meu amor!
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