...
Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

14/02/2010

Devo-te


Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo à lavada
planície do céu.

Devo-te a forma
novíssima de olhar
teu corpo onde às vezes
desce o pudor o silêncio
de uma pálpebra mais nada.

Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesíaca, doce
violência dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silêncio
das coisas - estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pólen
levíssimo do dia;
estas formigas na sombra
da própria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisível, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta - ó meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mãos!

Vítor Matos e Sá

Teu, és tudo...

2 comentários:

Anónimo disse...

Deves-me todas as horas, todos os quilômetros, todas as ondas do Atlântico, e as marés. Deves-me cada aurora e mínimos crepúsculos, e as temperaturas do teu corpo também. Deves-me cada coisa que não vivi contigo desde que nasci. E devolves-me tudo que me deves em forma da vida que me dás.
[Eu, renascida desde que te vi!]

Tua, tomo-te para mim.

Anónimo disse...

Tinham o rosto aberto a quem passava
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.

Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos,
mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

[Eugénio de Andrade]

Tens mil asas para doar, e falas em dever!?!
És lindo, amor meu.