A vida é mais,
não tenho tempo
para estar parado
a descansar ou em sossego.
Quero revolta, questão,
procura e desassossego,
dentro ou fora.
Quero discussão,
gritos,
gargalhadas e choro.
Não sou meios sorrisos,
lágrima ao canto do olho
e comida sem sabor.
Quero sangue,
suor e sémen,
sal e sol...
Não percebem e fico assim.
Com este meu jeito de indomesticado que irrita.
Esta parte de mim que abomina o sociável.
O eu eremita, cansaço dos outros, cansaço de falar.
Eu, o selvagem, que caminha deserto fora
pisa folhas e galhos até molhar a face no sal.
Irrita, por querer comunicar, transmitir,
e não precisar de ninguém, falar sozinho.
Este querer ser eu e a minha fêmea.
E gritá-lo sem querer saber se alguém ouve.
Não necessitar testemunhas.
Para atestar a veracidade
do nosso viver.
Sou eu, acossado e louco.
Selvagem.
João Miguel, O Pássaro do Sul
5 comentários:
"Nascidos selvagens", e sempre soldados em batalhas, mas sem "marchar no mesmo ritmo", e mesmo em outra direção... sempre sem verniz, de cara limpa porque suada.
Admiro tanto o meu homem.
Também me sinto uma selvagem, João. Um pouco mais mansa... rsss
"Esta parte de mim que abomina o sociável.
O eu eremita, cansaço dos outros, cansaço de falar"
Isso me diz tanto. Abraço, com admiração, Nydia.
Intenso!
Já que assim deseja... Que seja!
Um abraço carinhoso
Belo e intenso. parabéns. Todos nós temos um lado selvagem, está é controlado.
Abraço, e boa semana
Como sempre a minha admiração pelos teus versos e pelo ser assim sincero, selvagem, diferente.
Gosto de estar com os outros quando é assim um estar feito dessa sinceridade e forma individual de ser, de resto também tenho "Esta parte de mim que abomina o sociável.
O eu eremita, cansaço dos outros, cansaço de falar".
E saio daqui sempre feliz por encontrar partes de mim neste estar...e ser.
Beijos
Branca
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