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Sinto tantas vezes que não marcho ao mesmo ritmo
E não marcho na mesma direção que o resto das tropas
Como um desalinhado...

João Miguel, O Pássaro do Sul

24/05/2012

Exilado em ti

Vemos como somos, dizia Anaïs, perscrutamos nos outros, seus atos, com nossos olhos, reagimos-lhes com nossa pele. Não sou normal, trago sempre comigo esta solidão de saber estar comigo e em mim, que cresceu, como cresci ao ver-me inteiro para lá do eu. E espero anormalidades das pessoas sem coragem de falar à solidão delas. Afastam-se e sinto-lhes a vontade que obedeço de recuar dois, três, quatro passos... Nunca corro atrás de quem foge a esconder-se. Creio que se queira falar. Farejo a lucidez de ver com o coração deles, mas o mergulho alheio em mim é de braços fechados e o meu mar é cego ao seu peito. Como me sinto ensurdecer perante os raios e trovões que os seus silêncios e solidões lhes acenam! A sobriedade escapa-me, embriagado que fico nos caos, caio vertiginosamente na incapacidade amordaçante de ser mais do que eu sou para além de nós, para além dos entendimentos que se escoam neste deserto de vozes e gritos secos e áridos de vontade.

Afugentam-me, escorraçam-me. Caio e corro para esmagar-me no afago úmido do teu abraçar-me, fêmea parte de mim, com todas as tuas teias e pernas, inundando-me de nós nos teus olhos meus, em paz.

João Miguel, O Pássaro do Sul

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